quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O calor, o Pera e a "Foz freze"



Moro no rio há 6 anos e nunca havia passado por dias tão quentes.
Para dormir é um caos. Acordo sempre nas madrugadas com a testa molhada e o travesseiro encharcado de suor;
Para dormir de conchinha...impossível. 1° porque não tem o candidato e 2° porque nem quero ter um candidato para tal;
Para acordar, somente com uma ducha gelada e um café com "pedras de gelo";
Para sair na rua, impossível...prefiro ficar em casa com as janelas fechadas e peladão, em baixo do ventilador de teto.
Não tenho ar condicionado, pois não tenho dinheiro nem pra compra-lo e muito menos pra pagar a conta de energia depois.
O problema maior ta sendo para o meu gato... o Pera... ta passando um calor da bexiga e é só eu abrir a 'foz frize' (geladeira) que ele pula pra dentro e não sai nem com um franguinho pelado na frente dele.
Eu amo chuva... não somente porque refresca, mas também porque as plantas adoram, as ruas ficam mais limpas... e eu consigo dormir sem as mazelas acima e o Pera deixa a foz frize de lado.
Quanto a dormir de conchinha.... consigo dormir com o Pera.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O "pão nosso" de cada dia na África.










Fui convidado para integrar a equipe de paisagismo de uma empresa do governo Angolano no ano passado. Com tantas ofertas... não tive como negar. Enchi minhas três valises, peguei meus únicos três dólares e as duas passagens da TAG e pra lá parti. Com uma dor no coração de deixar aqui minha paixão desenfreada e um aperto nos culhões de sobrevoar o oceano atlântico até do outro lado do mundo e descer num país que só conhecia através da história mal contada e das então reportagens sobre os 40 anos de guerra civil.
Voei na quinta...cheguei na sexta...fui direto pra um hotel no meio da savana e lá permaneci até o dia seguinte, quando me levantei, tomei um café de rei e peguei um autocarro (ônibus) para a cidade de Luanda. Por alguns momentos, me achei a pessoa mais diferente do mundo. Mas quando retornei ao hotel, percebi mesmo que eu era muito diferente de quase todo mundo. Fui chamado de insano, louco, pula... entre outras palavras, pois havia tomado um autocarro e ido à Luanda, só.
Fiz de conta que não estava entendendo... quando ouvi mesmo o que eu não queria: Como que um branco como você me sai só?
Passei o resto do final de semana chorando de saudades de tudo daqui do Brasil. Mas o detalhe é que chorava e tomava uns goles de champagne francês e comia alguns chocolates holandeses. Tudo com muito requinte... que havia comprado com dinheiro emprestado do meu motorista.
Com o passar do tempo... essa prática era mais repetitiva, pois pra mim era tudo muito barato, uma vez que ganhava em dólares... mas ficava mal só de saber que meus 250 jardineiros que faziam todo o trabalho de paisagismo da empresa e, portanto do governo e que esta empresa ganhava fortunas pelos projetos .... somente ganhavam de soldo: US$ 75,00 mensais. Chorei tanto por essa desigualdade toda... mas briguei também. E consegui um considerável aumento para: US$ 250,00.
Mas isso tudo não me bastava... a comida oferecida a eles durante o trabalho era péssima... feita com muito carinho, mas quase sem nutrientes...só com muita gordura para que eles aguentassem o sol a pino de 40° e as suas respectivas 9 hr de exploração.
Num belo final de semana, fomos passar o dia no viveiro para eu ensinar algumas técnicas de como aumentar a produção de mudas. Eles não teriam o que comer. Caçaram os franguinhos invasores que "destruíam" as nossas mudinhas e lá fizemos do modo mais "arcaico" e medieval.
Ali eu descobri que estava na África. Àquela África que conhecera das histórias. Uma desigualdade tremenda.. uma resseção desumana... enquanto os seus compatriotas e funcionários públicos do governo de mais de 30 anos, comiam do bom e do melhor.
E depois vem alguém me dizer que o mundo ta em crise agora?
C'est la vie!!!
Desejo tudo de bom aos meus queridos amigos e profissionais mais inteligentes, cívicos, educados e animados seres verdadeiramente humanos de Angola.
Eu deixei aí um rastro verde com vocês... e vocês deixaram aqui em mim um rastro humano que jamais esquecerei. Espero poder um dia voltar. por enquanto vejo as nossas praças...áreas verdes...palácios presidenciais... e outras áreas nobres que fizemos... pelo google earth.

Devo, não nego e também não pago!!!























Foi assim que um casal de psicoterapiitas,

Ops!!!
Faltou um 'e' : psicoterapeutas me disse depois de 3 meses em banho maria.
NÃO VOU TE PAGAR O QUE EU TE DEVO.

O que me deixa mais impressionado é a capacidade de seres "humanos" em não respeitar o trabalho alheio. Não valorizar a mão de obra do profissional que passa horas a fio para deixar um espaço mais agradável dentro das possibilidades contratadas.

Fui contratado para dar um jeito num espaço muito bacana de um apt° em Copacabana. Vim correndo de São Paulo para realizar tal trabalho, depois de ter orçado e projetado e contratado.
Trabalhei por duas semanas em sol à pino para somente retirar o que não prestava. Mais uma semana para plantar as espécies propostas e mais alguns dias só pra satisfazer a vontade da "patroa" que toda hora queria por que queria mais alguma coisa além do projeto. Eu como um bom profissional, prontamente atendia e até cheguei a falar tal preço e a dificuldade de achar tal planta ou material.
Bom.... lá fui eu inúmeras vezes satisfazer as vontades de uma casal de seres quase inumanos ( se assim posso neologizar).
Quando terminei tudo, dei aquela super gabaritada, uma bela adubada, e fui pegar o restante do pagamento. Não haviam computado o referente aos materiais excedentes. Àqueles materiais que tive que ir comprando pra satisfazer as vontades da Sinhá.
Enfim.... tomei um prejuízo do meu trabalho por ter em um momento pensado na humanidade.. na pureza... na delicadeza de um ser humano psicoterapeuta que estuda e serve pra ajudar as pessoas.
C'est la vie!!!