quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O "pão nosso" de cada dia na África.










Fui convidado para integrar a equipe de paisagismo de uma empresa do governo Angolano no ano passado. Com tantas ofertas... não tive como negar. Enchi minhas três valises, peguei meus únicos três dólares e as duas passagens da TAG e pra lá parti. Com uma dor no coração de deixar aqui minha paixão desenfreada e um aperto nos culhões de sobrevoar o oceano atlântico até do outro lado do mundo e descer num país que só conhecia através da história mal contada e das então reportagens sobre os 40 anos de guerra civil.
Voei na quinta...cheguei na sexta...fui direto pra um hotel no meio da savana e lá permaneci até o dia seguinte, quando me levantei, tomei um café de rei e peguei um autocarro (ônibus) para a cidade de Luanda. Por alguns momentos, me achei a pessoa mais diferente do mundo. Mas quando retornei ao hotel, percebi mesmo que eu era muito diferente de quase todo mundo. Fui chamado de insano, louco, pula... entre outras palavras, pois havia tomado um autocarro e ido à Luanda, só.
Fiz de conta que não estava entendendo... quando ouvi mesmo o que eu não queria: Como que um branco como você me sai só?
Passei o resto do final de semana chorando de saudades de tudo daqui do Brasil. Mas o detalhe é que chorava e tomava uns goles de champagne francês e comia alguns chocolates holandeses. Tudo com muito requinte... que havia comprado com dinheiro emprestado do meu motorista.
Com o passar do tempo... essa prática era mais repetitiva, pois pra mim era tudo muito barato, uma vez que ganhava em dólares... mas ficava mal só de saber que meus 250 jardineiros que faziam todo o trabalho de paisagismo da empresa e, portanto do governo e que esta empresa ganhava fortunas pelos projetos .... somente ganhavam de soldo: US$ 75,00 mensais. Chorei tanto por essa desigualdade toda... mas briguei também. E consegui um considerável aumento para: US$ 250,00.
Mas isso tudo não me bastava... a comida oferecida a eles durante o trabalho era péssima... feita com muito carinho, mas quase sem nutrientes...só com muita gordura para que eles aguentassem o sol a pino de 40° e as suas respectivas 9 hr de exploração.
Num belo final de semana, fomos passar o dia no viveiro para eu ensinar algumas técnicas de como aumentar a produção de mudas. Eles não teriam o que comer. Caçaram os franguinhos invasores que "destruíam" as nossas mudinhas e lá fizemos do modo mais "arcaico" e medieval.
Ali eu descobri que estava na África. Àquela África que conhecera das histórias. Uma desigualdade tremenda.. uma resseção desumana... enquanto os seus compatriotas e funcionários públicos do governo de mais de 30 anos, comiam do bom e do melhor.
E depois vem alguém me dizer que o mundo ta em crise agora?
C'est la vie!!!
Desejo tudo de bom aos meus queridos amigos e profissionais mais inteligentes, cívicos, educados e animados seres verdadeiramente humanos de Angola.
Eu deixei aí um rastro verde com vocês... e vocês deixaram aqui em mim um rastro humano que jamais esquecerei. Espero poder um dia voltar. por enquanto vejo as nossas praças...áreas verdes...palácios presidenciais... e outras áreas nobres que fizemos... pelo google earth.

Um comentário:

A.Nanda disse...

Nessas ocasiões é que percebemos como somos felizes e não damos o devido valor!