terça-feira, 28 de outubro de 2008

Um jovem antropologo


Rio de Janeiro, 05 de novembro de 2007

“não era do céu, não era do mar e nem muito menos de Luanda.”

Pelo menos não a Luanda que eu conheci quando lá morei por alguns meses. Em recente matéria lida na revista o globo e coincidentemente no Fantástico do dia 04 de novembro de 2007, a apresentadora Regina Casé falou sobre o transporte público na periferia de Luanda-Angola: (...) “lá eu não vi um taxi, um trem, um único ônibus, nada (...). Fiquei me perguntando que Luanda ela se referia?

Quando pretendemos fazer uma etnografia -- ainda mais de uma cultura que nunca tivemos acesso -- temos que ir a fundo, no âmago daquela sociedade. Não se faz uma etnografia em 10,20 ou 30 dias de viagem. Sendo assim, deixo aqui o meu mais sincero sentimento de indignação para com pessoas que tem o artifício da mídia nas mãos e que divulgam informações errôneas através dela. Imagine se eu, paulistano como sou, saísse falando mal dos cariocas e de alguma particularidade da cidade, todas as vezes que eu fosse a Sampa? E é por essa e por outras que peço a gentileza para que seres verdadeiramente humano não cometa o erro de generalizar sem conhecer o outro de fato.

No primeiro final de semana que estava em Luanda, pedi na recepção do hotel, um taxi. Com era muito caro, resolvi pegar um autocarro – ônibus iguais aos nossos daqui, aliás, muito deles são importados daqui — o fato é que, Angola fora devastada durante anos (primeiramente para se livrar dos colonizadores e depois para disputar quem ficaria no poder para tomar conta dos milionários recursos naturais, diga-se diamante e petróleo). Percebi então, ao longo do trajeto do “autocarro”, que existia uma linha férrea, mas havia sido destruída e todas as pedras e trilhos utilizados pelos milhares de famintos, para a construção de suas musseques – favelas -- ao longo da via recém asfaltada pelos prisioneiros chineses que lá estão expatriados, trabalhando em troca de uns dias a menos nas suas penas (existe um consórcio com a China para que, em troca de uns barris de petróleo e alguns diamantes, a China construa mal e porcamente algumas coisas). Fato é que Angola está passando por um período que denomino como: O Período Capitalizante. É quando um país que saíra do período de guerra abre os portos para a entrada de mercadorias sem impostos. Por isso que em Angola, os carros são os “melhores e mais caros” e os mantimentos... ah! Compra-se bons vinhos, bons champangnes, bons chocolates, entre vários outros alimentos das mais variadas nacionalidades desse universo. E tudo muito “barato” (pelo menos para quem ganha em dólar, e bem). Bem, quem não tem esses dólares, vive do mercado informal: cerca de 90% dos angolanos. E o motivo pelo qual ainda não existe muito autocarro, as Candongas – lotação angolanas—as quais são padronizadas e quase todas oficializadas fazem o papel de transporte público, mas com frotas particulares ( aliás, bem particular, pois o maior dono de uma frota é a própria esposa do presidente que está no poder há 30 anos e que adia ano a ano as eleições presidenciais – na última ele disse que era por que coincidiria com o período das chuvas e uma grande parte dos angolanos não poderia votar – e olha que é o povo mais politizado que já conheci. Eles sim têm cultura cívica. Mas ainda vivem sob uma “colonização” mas agora americana...russa...chinesa... brasileira...

Eu achei que fosse encontrar uma áfrica tribal, como aprendíamos na escola, mas de tribal, só a gente mesmo. Que continuamos sendo um bando de tribais que escutam ou “acham” alguma coisa e desembestam a dizer por aí. Conhecem a teoria do ‘achismo’? Como diz uma amiga minha: “éééééé um jogo de empurra né!”

Ass. Um jovem antropólogo

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